Mais do Mesmo - Haikus
Tua
A pele do futuro
coberta de cinza –
Agosto em Portugal.
Quando beberei
deste sol
que agora me queima?
À beira do rio
conspurcar outro corpo
com a minha vontade.
No ar o cheiro
dos tomates podres
que ninguém colheu.
Enquanto o sol dá
os últimos retoques
um pardal à sombra.
As paredes caiem
mas as uvas
amadurecem.
Encostado à parede da estação
trabalha à sombra
o cara de sapo.
Depois da peregrinação
às três capelinhas
sento-me e descanso.
Do cimo da fraga
vejo tudo
o que tenho que ver.
Do alto da fraga
a gente tem
um tamanho mais real.
Sentado na fraga
escrevo um poema
e toco harmónica.
No papel seco
marca de batom
de beiça de cu.
Dos antigos amores
apenas permanecem
as memórias e o granito.
Cidões
É mais fresca
a sombra
do velho castanheiro.
Torre de Dona Chama
Quais os bandidos
preferem os figos
fumados?
Que silêncios
afugentam
as aves?
Pousa no telhado
da casa abandonada
um bando de pombas
Põe-se o sol
aos poucos um inferno
amanhece nos montes.
Com a barriga cheia
de amoras maduras
custa menos partir.
Agosto 2025
João Bosco da Silva